Espaço comunicativo, de teor artístico-cultural, em que a expressão poética assume o papel de maior relevo. Não há aqui lugar a pessimismos fátuos, a frustrações e/ou falsas evidências... Prevalecerão o bom senso e o critério humanísticos!
Domingo, 10 de Dezembro de 2006
DE GRECCIO PARA O MUNDO

         
Adaptação de
Frassino Machado
Inspirado nos Escritos de
Tomás de Celano,
Cronista da OFM

Precisamos de recordar com todo o respeito e admiração o que fez São Francisco de Assis, na vigília de Natal do ano da graça de 1223, no povoado de Greccio, evento que teve lugar três anos antes de sua gloriosa morte.
Havia nessa povoação um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua terra, desprezava a riqueza humana para seguir a nobreza de espírito.
Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandara chamá-lo, como costumava, e disse: "Se tu quiseres que nós celebremos o Natal em Greccio, é bom começar a prepará-lo diligentemente e desde já a pensar no que vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, as dificuldades que a família de Nazaré passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro".
Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente a preparar diligentemente, com a ajuda de alguns amigos, o que o Santo tinha dito, no lugar indicado.
Aproximou-se o dia da festividade e da alegria e com ele o tempo da exultação.
De muitos outros lugares e povoações foram chamados os irmãos: homens e mulheres, novos e velhos, de acordo com suas posses. Todos prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou também o Santo e, vendo tudo de acordo com o que planeara, ficou contentíssimo.
Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia e estava deliciosa para os homens e para os animais. O povo foi chegando e alegrou-se com o mistério renovado nesta realidade tão oportuna e inovadora. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e pela noite inteira todos conviveram e se rejubilaram.
O Santo parou diante do presépio e suspirou, cheio de devoção e de alegria.
A missa foi celebrada ali mesmo no presépio, tendo o sacerdote que a celebrou sentido uma piedade que jamais experimentara até então.
O Santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o santo Evangelho. De fato, era "uma voz forte, doce, clara e sonora", convidando a todos a cantar as alegrias eternas.
Depois pregou ao povo presente, afirmando com fé coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes, quando queria chamar Cristo a Jesus, chamava-o também com muito amor de "menino de Belém", e pronunciava a palavra "Belém" como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com doce afeição. Também estalava a língua quando falava "menino de Belém" ou "Jesus", saboreando a doçura dessas palavras.
Multiplicaram-se nesse lugar as maravilhas do Todo-Poderoso. Aconteceu que um homem de virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebé dormindo, que acordou quando o Santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o menino Jesus estava de facto dormindo no esquecimento de muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança.
Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa. Guardaram a palha usada no presépio para que o Senhor curasse os animais, da mesma maneira que tinha multiplicado Sua santa misericórdia. De facto, muitos animais que padeciam das mais diversas doenças naquela região comeram daquela palha e tiveram uma cura feliz.
Da mesma sorte, homens e mulheres conseguiram a cura das mais variadas e estranhas doenças.
O lugar do presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai Francisco e dedicaram uma igreja para que, onde os animais já tinham comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a carne do cordeiro imaculado e não contaminado, Jesus Cristo Nosso Senhor que se ofereceu nascendo por nós, naquela Santa Noite, com todo o seu inefável amor...

Tomás de Celano
In Primeiro Livro (Fontes Franciscanas)


publicado por conchitamachado às 08:49
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De maria a 18 de Dezembro de 2006 às 00:01
Belíssimo post, a celebrar o verdadeiro (e tão perdido, convenhamos) Espírito de Natal...
Beijinho


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